TRABALHO INTELECTUAL - Síntese Bibliográfica
Corrigido e adaptado pelo Ir. José Crucificado de Jesus Hóstia - EREMITA
O DESERTO
O (a) eremita é chamado (a) a viver na solidão, mas sem abandonar a comunidade. “Homem algum é uma ilha”, diz Thomas Merton, monge americano, num de seus livros. Querer isolar-se para não enfrentar os problemas atinentes à vida de sociedade é fuga e não vocação ao eremitismo.
O Espírito Santo fecunda a Igreja com seus dons e carismas e já nos primeiros séculos de nossa era cristã suscitou homens e mulheres para seguirem a Jesus de Nazaré no deserto “profundo” da solidão, do silêncio, da oração e da contemplação, numa vida austera e penitente, imitando Jesus em seus 40 dias de deserto antes de começar sua vida pública (decreto da Diocese de Terragona, Espanha).
O Espírito Santo continua chamando pessoas para esse tipo de vida: “com a qual os fiéis, por uma separação mais rígida do mundo, pelo silêncio da solidão, pela assídua oração e penitência, consagram a vida ao louvor de Deus e à salvação do mundo”(Catecismo da Igreja Católica, cânone 603).
Os que estão dispostos (as) a viver esse tipo de vida devem comprometer-se seriamente a viver uma vida cristã e consagrada, de oração contemplativa, de silêncio, solidão, austeridade, pobreza, castidade, e de estar sempre disponível a Deus e à Igreja.
O coração do (a) eremita, fortalecido pelo Espírito Santo e apaixonado por Jesus, deve conservar-se fraterno, solidário e acolhedor.
O deserto, ou seja, essa vida de silêncio e de contemplação, deve levar o(a) eremita a escutar a Palavra, esteja onde estiver (isolado ou na cidade). Se estiver na cidade, deve transformá-la no deserto, por meio de suas renúncias.
Para garantir a autenticidade de sua vida, o(a) eremita deve ter estabilidade, ou seja, não ficar mudando seu domicílio a toda hora. Uma vez estabelecido o local onde irá morar, só se mudará se entrar de acordo com o Sr. Bispo da diocese.
A VIDA DO(A) EREMITA
A intimidade pessoal com Cristo e a união com Deus, segundo o Catecismo da Igreja Católica (nº 663), dão-se por meio da contemplação das coisas divinas pela oração assídua e deve ser o primeiro e principal dever de todos os religiosos e, por extensão, dos(as) eremitas. Mais do que dedicar um tempo para a oração diária, o(a) eremita deve CONVERTER TODO O DIA EM ORAÇÃO (Decreto de Terragona).
A presença ininterrupta de Jesus na vida do(a) eremita se torna mais fácil com a comunhão diária e a celebração litúrgica da Palavra, feita sem pressa, numa hora mais adequada. Essa celebração pode constar da liturgia diária, da Liturgia das Horas, da Lectio Divina (leitura orante da bíblia), da leitura de um texto que ajude o aprofundamento na contemplação e de outros meios.
Lembre-se o(a) eremita que nesses momentos de oração está ligado a toda a Igreja orante. Não está sozinho(a).
Sua regra pessoal de vida deve marcar os limites de sua vida na solidão com seu relacionamento social. Deve viver uma vida de silêncio para ouvir Deus lhe falando ao coração, como Maria tão bem o soube fazer. Seus relacionamentos sociais, humanos, familiares, devem ser marcados pela fraternidade, cordialidade, sensatez, caridade evangélica, humildade, misericórdia. Deve controlar seu contato com os meios de comunicação social, incluindo correspondência, telefone, viagens, saídas do eremitério, internet, procurando saber apenas o necessário para poder rezar pelas diversas intenções que seu coração lhe sugerir, evitando que esses contatos lhe quebrem a vida de silêncio e de contemplação.
Quanto a participar ou não de alguma pastoral da Igreja, eu discordo um pouco com as orientações da diocese de Terragona, que proíbe ao (à) eremita “qualquer tipo de atividade catequética” ou “social organizada, coisas que, mesmo bem que sejam boas, correspondem a outros carismas na Igreja”. Acredito que deva, sim, participar de algum grupo da comunidade, que não lhe tome muito tempo. Isso o (a) ajudará muito na compreensão da espiritualidade cristã e no relacionamento com os irmãos, evitando que sua solidão se torne algo doentio.
Deve evitar ficar recebendo pessoas em seu eremitério. Isso pode dissipar muito sua vida de oração e de silêncio. Consiga um modo de ajudar as pessoas sem que elas estejam a todo o momento em sua casa.
O (a) eremita diocesano, ligado (a) ao bispo, deve comunicar-lhe a ausência por mais de 15 dias do eremitério. Os (as) eremitas autônomos não precisam dessa autorização, mas devem organizar essas saídas de tal modo que não desviem seu propósito de viverem uma vida de solidão, oração e trabalho.
Quanto à penitência, diz o Catecismo Católico da Igreja no cânone 1249: “Todos os fieis, cada qual a seu modo, estão obrigados por lei divina a fazer penitência”. E no cânone 1250 especifica que os dias de penitência são todas as sextas-feiras e o tempo da quaresma. O(a) eremita deve ter em mente que para ele (ela), a penitência é a marca fundamental de sua vida e deve ser praticada com maior frequência e amor.
O decreto de Terragona especifica esses itens de penitência, que leva o(a) eremita a uma conversão do coração, a uma austeridade de pobre, a uma confiança total no Pai celestial que cuida das flores do campo e dos pássaros do bosque, e a uma plena liberdade dos filhos de Deus:
-estilo de vida pobre em tudo, sem seguranças temporais. Apenas os gastos mínimos e indispensáveis.
-sem comodidades
-sem companhia
-ligada sempre ao trabalho: “reze e trabalhe – ora et labora” para ganhar o pão de cada dia.
Para concretizar tudo isso, o(a) eremita fará um horário pessoal dando prioridade ao espaço para a oração, às horas obrigadas de trabalho e ao tempo de descanso necessário, assim como às possíveis ou necessárias saídas. Em tudo, lembrar-se sempre de evitar o ócio.
Esse horário deve adaptar-se às particularidades das épocas do ano. Nos tempos próprios, priorizar a penitência.
O(a) eremita deve conseguir um(a) diretor(a) espiritual que o(a) auxilie na caminhada. Sobretudo, esse(a) diretor(a) espiritual deve orientá-lo(a) para que não se desvie num tipo de “romantismo” da vida eremítica, ou seja, que não faça tudo apenas por aparência, mas sua vida de eremita seja autêntica e esteja, realmente, num caminho de santidade.
Esse(a) diretor(a) espiritual deve discernir se o(a) eremita não está buscando esse tipo de vida por motivos falsos, como fuga de problemas pessoais, ou timidez, ou complexos ou coisas desse tipo que vão tornar sua vida um “pseudo-eremitismo” (parece que é vida eremítica mas não é).
Formação constante
Todo(a) eremita deve estudar a doutrina da Igreja, a Bíblia, a história da vida eremítica, ler leituras espirituais, mas não exagerar em nenhuma delas: tudo deve se adequar ao conjunto de sua vida, na dose certa. Para isso é que é necessário um (a) diretor(a) espiritual. A formação deve ser permanente e sem desânimo. Procure entrar em contato com outros(as) eremitas, mesmo que seja por e-mail, para ver como vivem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário